A CAMINHADA PARA A UNÇÃO

Quando Deus deliberou arrebatar aos céus o profeta Elias, fez saber o que aconteceria, ao próprio profeta, a Eliseu, o seu moço, bem como aos demais discípulos dos profetas, nas regiões onde eles habitavam.

Ante tal revelação, Elias e Eliseu iniciaram uma caminhada. A partir de Gilgal desceram a Betel, de onde foram para Jericó, e de lá, ao Jordão, em cuja margem o profeta Elias foi arrebatado para o céu em uma carruagem de fogo, puxada por cavalos de fogo, e Eliseu foi ungido pelo Espírito de Deus.

A caminhada de Elias e Eliseu tinha propósitos diferentes, mas, ambos estavam indo a um poderoso encontro com Deus. Elias seguia para o arrebatamento aos céus, de onde nunca mais voltaria à terra, enquanto que Eliseu, persistentemente caminhava em busca da unção. Ele ia à busca da porção dobrada da unção do Espírito Santo que repousava sobre Elias. O que Eliseu queria ao dizer, “peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito”, era a herança espiritual de Elias, na porção dupla, porque sabia que dela precisaria, nessa dimensão.

Eliseu com o seu pedido nos ensina que “apreciava o poder, o caráter e a espiritualidade do seu mestre, que quis ser como ele, e ainda mais” (A Bíblia Explicada-1990).

Todo aquele que deseja a unção divina em sua vida, deve fazer a mesma caminhada empreendida por Eliseu.

A caminhada de Eliseu para o recebimento da unção divina teve o seu início em Gilgal. Gilgal significa “círculo de pedras”, “rolante”, “revolução”, “revolvimento”, “mexer”. Esta palavra é um derivado do termo hebraico galal que significa “rolar”. É exatamente isso o que, em primeiro plano, deve acontecer com todo aquele que deseja ser revestido com a unção do Espírito Santo. Uma revolução precisa acontecer como fruto do revolvimento de cada área da vida, a ponto de fazer rolar para longe todo o inadequado. É necessário que aconteça um revirar profundo em tudo o que estiver estabelecido, e que não agrade ao Senhor. Tudo o que for resquício do Egito deve ser revolvido e retirado, a fim de que a novidade de vida venha ser uma realidade.

Para o povo de Israel, Gilgal, tornou-se um lembrete sobre a libertação outorgada por Deus, ao retirá-lo do Egito, porque foi em Gilgal que Deus ordenou, e Josué executou a circuncisão dos israelitas caminheiros no deserto, e que não haviam sido circuncidados, porque eles eram os filhos da peregrinação. A respeito desse fato, enfaticamente declarou o Senhor: “Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito” (Josué 5:9).

Para que haja o fluir da unção é preciso que tudo em nós seja colocado diante de Deus. Que seja tudo revolvido, e retirado o que for inadequado, a fim de que a unção repouse sobre nós.

Gilgal fala de libertação de coisas negativas do passado, mas, também apresenta a nossa vitória no presente, e aponta para a posse da grande herança que em Cristo temos, a nos aguardar no futuro.

De Gilgal eles foram para Betel.

A palavra Betel significa “Casa de Deus”. Foi em Betel que Jacó viveu a sua primeira experiência com Deus, tendo-o percebido como o Deus que está presente, o companheiro da caminhada. Ali em Betel, Jacó adorou verdadeiramente a Deus, e com Ele se comprometeu. Mas foi também em Betel, que esteve por muito tempo a Arca da Aliança, o sinal visível da presença de Deus.

É em Betel, a casa de Deus, que a intimidade entre o homem e Deus se estabelece, e o faz crescer na graça e no conhecimento da pessoa do Senhor Jesus.

Na “casa de Deus” a glória divina se faz presente e enche o templo, a voz do Senhor se faz ouvir trazendo revelações tremendas, e Deus dá diretrizes ao seu povo. A “casa de Deus” é o lugar da autoridade, porque em Betel Deus estabelece o seu trono; é o lugar onde Deus exerce liderança sobre o seu povo, porque nela Ele coloca a planta de seus pés; é o lugar onde Deus mantém intimidade com seus amados, por ter deliberado fazer dali lugar da sua habitação; e é o lugar de santidade, porque em Betel Deus determina a remoção de tudo o que é inadequado

Falando sobre isso, disse Deus ao profeta Ezequiel:

“Filho do homem, este é o lugar do meu trono, e o lugar da planta dos meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre; os da casa de Israel não contaminarão mais o meu nome santo, nem eles nem os seus reis, com as suas prostituições e com os cadáveres dos seus reis, nos seus monumentos”(Ez. 43:7).

É, portanto, em Betel, na comunhão com Deus, que devem estar todos os que buscam a unção divina que irá capacitá-los melhor, para a execução da obra do ministério que Deus lhes confiar.

Após o revolvimento em Gilgal, e do estar na intimidade com Deus em Betel, é que se chega a Jericó. Foi isso o que aconteceu a Elias e a Eliseu.

A palavra Jericó significa “Lugar da Fragrância” ou “Cidade do Bálsamo”.

Na caminhada para a unção, Jericó é um ponto fundamental, por se tratar da necessidade de perfume e de bálsamo, na vida daquele que quer ser um poderoso instrumento para a exaltação da glória do Senhor.

O perfume de Cristo, em seu agradabilíssimo aroma, deve encher a vida e marcar as atitudes dos ungidos do Senhor. O apóstolo Paulo declarou que “Para Deus somos um aroma de Cristo nos que se salvam e nos que se perdem” (2 Co.2:15). As atitudes do ungido devem manifestar a presença do caráter de Cristo, em seu caráter.

O bom perfume de Cristo é o cheiro de vida, que concede a vida divina a todos que entram em contato com os que são do Senhor. A presença de Jesus, manifesta através das atitudes daqueles que são de Cristo, é a unção de amor que unge o ambiente no qual estão, e o perfuma, com o amor do Senhor Jesus, que neles está.

As atitudes que expressam perfume se manifestam através da gentileza, da compreensão, das ações amoráveis no trato com as pessoas. Essas atitudes mudam o odor do ambiente onde está reinando a incompreensão, a contenda, o ciúme, a ira e o orgulho.

A última etapa da caminhada empreendida por Elias e Eliseu foi atravessar o Jordão. A palavra Jordão significa “descendo” ou “o descedor”. Esse rio corre por uma fenda do solo, sendo a mais baixa depressão da terra, chegando a atingir setecentos e noventa e três metros abaixo do nível do mar, no extremo norte do Mar Morto. Observando esse quadro geográfico, podemos dizer a quem está caminhando em busca da unção divina, que o Jordão fala de quebrantamento, de aniquilamento do eu, de humildade. Essa deve ser a marca dos ungidos do Senhor, a fim de que possam apresentar apenas a pessoa do Senhor Jesus, por saber que o poder que neles opera, e que a tudo excede, provém de Deus, e não do homem.

Quando o ungido está sendo usado em manifestação do poder de Deus, precisa cuidar do próprio coração, a fim de não tomar para si a glória que pertence exclusivamente àquele que é o próprio poder, que é a própria unção. É na olaria o lugar dos que são do Senhor.

João, o Batista, nos ensina sobre o estar no Jordão. Ele nos mostra que grande é o Senhor, e não aquele que realiza a obra que recebeu a tarefa de empreender. Certa feita, referindo-se a Jesus ele disse aos seus discípulos: “convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo. 3:30). Ao ver assim, João não estava apenas à margem do rio Jordão, ele vivia plenamente esse rio.

( Autor: Apóstolo Rubem Cavalcante)